Rafael Conde é figura conhecida do circuito de produção de filmes de Belo Horizonte. Depois de vários curtas-metragens, sua estréia nos longas se deu através de um filme, que para muitos poderia ser o orçamento do um curta, ou um média, vá lá (R$ 400.000,00).
Cinema é coisa de vagabundo, diria Dona Martírio, mãe de Zé Rocha, nosso protagonista brancaleônico, em sua longa caminhada para produzir um filme. Em Samba Canção, todos os clichês sobre o cinema nacional estão escancarados, prontos para serem gozados. É a produtora obcecada pela soberania na produção de negativos, é a atriz da novela das seis, linda, que se acha, é o ator maldito do Cinema Marginal que vive de sua reputação entre jovens cineastas.
O retrato é cruel. E progressivamente vai apresentando ao espectador todas as fraturas de um sistema de produção que precisa ser urgentemente repensado. É subversivo por fazer graça, troçar da sua própria situação.
A cada corte no orçamento do filme do Zé Rocha, muda a janela do filme, que começa em “glorioso cinemascope” e termina num video digital bem comum. Em especial, a cena em que o nosso Zé ganha no bicho, e a cada número sorteado, a janela aumentando, para depois desmoronar, óbvio.
Filme que aparenta leveza para tratar de assuntos sérios, Samba Canção é um filme que surpreende o espectador com sua criatividade a toda prova, ironia férrea, e pelo visto (correndo o risco de ser ultra piegas), esperança.