À medida que a mostra avança, perdemos progessivamente o contato com o real. Ou com o presente, a realidade histórica, a esfera dos acontecimentos. As situações representadas nos vídeos do terceiro programa da mostra, Imaginário, começam a assumir a dimensão de um tempo em suspensão. Perdido entre passado e futuro?
Na perseguição que se apresenta em “La patrulla oceánica”, de Sabrina Montiel-Soto, somos remetidos a alguns dos grandes momentos do cinema surrealista – de “L’étoile de mer”, de Man Ray, a “Meshes of the afternoon” de Maya Deren. Ou ao imaginário expressionista de Fritz Lang. O patrulheiro de Sabrina Montiel-Soto guarda um parentesco com a mulher perseguida pela sombra, no filme de Maya Deren. Mas, então, alguém perguntaria: onde está o real? Como a proposta da curadoria, “localizar os videos que aproximam as instâncias do real, do falso e do imaginário”, é efetivada?

La patrulla oceánica, de Sabrina Montiel-Soto
Em “La patrulla oceánica”, o real é visionado através dos olhos de peixe do patrulheiro, olhos que equivalem a lentes “fish-eye” – lentes fotográficas que captam imagens em angulares de 180º ou 360º e que absorvem o mundo desde uma proximidade invasiva. Por mais surrealista que seja, esse patrulheiro é fiel à sua missão número um: observar. E à número dois: perseguir. Seus olhos-lentes-fish-eye são observatórios persecutórios de uma missão: resgatar a sereia que se desgarrou do bando no mundo oceânico e diverte-se em fontes e piscinas do mundo real.
Em “Nightmare”, o imaginário gótico de Janaina Tschäpe, também liberta as próteses surrealistas em mãos, costas, face. Talvez o filme se comporte como uma bolha que, como um sonho, pode estourar a qualquer momento e devolver o observador ao mundo real.

Nightmare, de Janaina Tschäpe
O real é a poeira. Dele partimos e para ele voltamos.