Ponto Final

novembro 30, 2011

Era julho de 1997 quando se realizou em Belo Horizonte, ainda no Instituto Cultural Itaú da cidade, a primeira sessão da Mostravídeo – naquele ano ainda conhecida como Espaço Vídeo, ganhando sua denominação definitiva em 1998. O projeto surgiu a partir do convite do então coordenador Sebastião Miguel, que estava inaugurando uma sala de vídeo, ali na R. Goitacazes 29. Com não mais de 40 lugares e um excelente projetor de 3 tubos da Sony, aquele espaço abria suas portas para uma grande oportunidade: exibir em Belo Horizonte uma programação diferenciada de vídeos experimentais e criar uma grade semanal com mostras, palestras e lançamentos desta produção alternativa.

Assumia então o desafio de realizar a curadoria daquela programação. Era um momento de maturidade de um espaço alternativo que já era exercitado pelo instituto desse o início dos anos 90, quando ainda de forma improvisada se exibia em um monitor de TV de 20 polegadas e o auxílio de um luxuoso videocassete, o que vinha se produzindo no Brasil no contexto do vídeo independente e da emergente produção de curtas-metragens. Muitos destes vídeos serviram para alimentar a Midiateca do Instituto Itaú Cultural, que até hoje guarda em sua sede na Av. Paulista muitas destas relíquias.

Os primeiros anos ajudaram a sedimentar a ideia de fortalecer a importância de se manter uma programação periódica, que acontecia impreterivelmente às quartas-feiras, em duas sessão, ao meio-dia e às 19:30 h, durante nove meses do ano – de abril a novembro. Naquela época a missão era exibir o que mais de interessante estava sendo produzido no contexto da vídeo-arte brasileira e internacional, priorizando a formação de público. Nas telas da Mostravídeo destes primeiros anos, do qual fui curador, o que mais se destacava dos acervos de distribuidoras e institutos como Electrinic Arts Intermix (Nova York), Video Databank (Chicago), London Video Acess (Londres), Heure Exquise (Paris) era frequentemente exibido na programação. Conectada com a produção brasileira, a Mostravídeo também era um espaço de exibição e reflexão sobre esta cultura audiovisual e das novas mídias emergente. Em 2001 assumi a gerência do Núcleo de Cinema e Vídeo no instituto em São Paulo e a Daniella Azzi passou a cuidar da curadoria no período de 2002 a 2005. Depois dela o André Brasil desenvolveu o programa em 2006.

Aos 20 anos do Itaú Cultural, em 2007, optou-se pela diversificação e numa ideia arrojada. A cada mês um curador diferente faria sua proposta, identificando a programação com seu perfil e experiência crítica. Foram 27 curadores num modelo que durou 3 anos e teve em 2009 o lançamento do blog da Mostravídeo, que passou a publicar a programação e os comentários dos participantes. João Dumans e André Costa cuidaram da mostra em 2010 e 2011.

Mesmo com o fechamento do instituto em Belo Horizonte, o Itaú Cultural procurou parceiros para poder continuar com a iniciativa e a mostra foi realizada em 2003 no Museu Abílio Barreto e depois de 2005 até os dias de hoje na Sala Humberto Mauro do palácio das Artes. Nestes 14 anos a Mostravídeo também aconteceu em outras cidades além de Belo Horizonte. Em 2002 e 2003 Campinas, 2004 Porto Alegre (Centro Cultural Mario Quintana), 2005, 2006 e 2007 Belém (Instituto de Artes do Pará), 2008 no Rio de Janeiro (Cine Glória), 2009 Vitória (Cine Metrópole), 2010 e 2011 Curitiba (SESC PARANÁ).

A Mostravídeo foi parâmetro para as atividades de audiovisual do Itaú Cultural, do qual fui gerente durante 10 anos. Quando assumi a área acreditava na possibilidade de realizar um planejamento voltado para o incremento de atividades focadas nesta produção experimental de cinema e vídeo. Aproveitando esta potencialidade embrionária, somada ao desejo enorme de colocar em prática algumas ideias, iniciei a produção em 2002 daquele que certamente foi o projeto que serviu de base para a consolidação de uma série de outros voltados para o nicho do experimental. Esse projeto foi o Made in Brasil – Três Décadas do Vídeo Brasileiro. Uma mostra que reuniu 84 produções, compilando 30 anos da história do vídeo de criação brasileiro. Após dois anos de uma bem-sucedida itinerância, atingimos um público de 18 mil espectadores e publicamos, em parceria com a editora Iluminuras, um livro de mesmo nome, sendo este, desde então, sistematicamente utilizado como referência pelos pesquisadores e professores da área.

Acreditando no modelo aplicado em Made in Brasil, partimos para um projeto ainda mais arrojado, envolvendo agora a produção audiovisual experimental da América Latina. Após 18 meses de pesquisa e dois anos de itinerância, encerrou-se no mês de julho de 2010 o período de difusão do projeto Visionários – Audiovisual na América Latina, que reuniu 73 obras de 19 países. Ele contou com a participação de uma dezena de curadores e assistentes curatoriais que estabeleceram uma rede de contatos e informações para prospector centenas de trabalhos de todo o continente. Foram ao todo 39 itinerâncias, com exibições e debates em 14 países, e tendo como parceiros instituições como Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, Argentina; Bienal de Vídeo y Nuevos Medios, de Santiago, Chile; Cinemateca do Uruguai; Telefônica do Peru; Museu de La República e Festival de la Imagen, Colômbia; Museu de Arte Moderna do Equador; Festival del Nuevo Cine Latinoamericano, Cuba; Museu Reina Sofia, Espanha; e The Netherlands Media Art, Holanda; entre outros.
Visionários lançou luz sobre uma produção de cinema e vídeo experimental praticamente esquecida em seu valor antológico e desconhecida no contexto contemporâneo.

Dentro da mesma perspectiva de dar visibilidade a esta produção, o Núcelo de Audiovisual realizou uma série de outros projetos também focados nessa vertente. Interatividades (2002), Corpo Câmera Ação (2005), Memória Eletrônica – Retrospectiva Nam June Paik (2006), Experiências da Imagem (2007) e Filmes e Vídeos da Coleção Goetz (2009) são algumas das contribuições realizadas pelo instituto com o intuito de, cada vez mais, difundir uma produção artística e experimental de excepcional qualidade que encontra pouco espaço de disseminação no país.

Depois destes 14 anos a Mostravídeo encerra suas atividades. Agora chegou a hora de novos rumos, repensar o que já foi feito e propor novos projetos. Gostaria de agradecer as manifestações de apreço pela mostra e pela fidelidade das pessoas que se formaram assistindo as sessões da Mostravídeo.

Abs
Roberto Moreira S. Cruz


Coleções e Inventários #3 – Arthur Omar

novembro 23, 2011

Na última sessão do mês de novembro, a Mostravídeo Itaú Cultural realiza a estréia do filme “Alquimia da Velocidade”, de Arthur Omar, em Belo Horizonte e Curitiba. Responsável por um conjunto de obras que se tornaram referência para a arte brasileira (o longa Triste Trópico, de 1974, e a série fotográfica Antropologia da Face Gloriosa, de 1994, são só alguns deles), Omar desconstrói com frequência em seu trabalho a perspectiva factual dos acontecimentos em prol de uma relação plástica e sensorial com as imagens. No seu último filme, o artista resgata imagens de uma viagem feita por ele ao Afeganistão em 2002, e propõem, a partir do registro de um violento jogo entre cavaleiros locais, uma meditação sobre o tempo, o movimento e a velocidade. A exibição acontece em parceria com o forumdoc.bh.2011, no contexto da mostra especial “O Animal e a Câmera”.

Alquimia da Velocidade
Arthur Omar, Brasil, 2010, 55′

Fotografado em 2002, no Afeganistão, em zona de guerra, o filme apresenta cenas do violento jogo do buskashi. Nesse jogo, dois grupos de cavaleiros combatem pela posse de uma carcaça de bode decepado. As imagens foram captadas com uma câmera amadora de baixa definição, e têm seu tempo dilatado até a imobilidade: nesses instantes, a luta fica suspensa no ar. Segundo o diretor, é um filme “low tech, dedicado à simbólica dos cavalos. Afinal, é sobre o qual vem montado o apocalipse”.

Em BH quarta 23 19h30
Em Curitiba quinta 17 19h30


Coleções e inventários #2 – Menken, Cornell, Brehm, Brakhage, Friedrich, Lowder

novembro 15, 2011


Lugares, texturas, objetos, gestos, fontes luminosas, jardins – e às vezes tudo ao mesmo tempo, como no encantador “Blah, Blah, Blah”, do austríaco Dietmar Brehm, ou no singelo “Notebook”, de Marie Menken. Entre realizadores contemporâneos (Brehm e Lowder) e clássicos do cinema de vanguarda (Brakhage, Menken, Friedrich e Cornell), o gosto pelos inventários e pelas coleções nunca deixou de alimentar os delírios do cinema experimental, essa espécie de catálogo caótico de coisas dispersas, banais e sem importância. Com exceção de “A Legend for Fountains”, de Rudolph Burckhardt e do célebre “bricoleur” Joseph Cornell (num de seus filmes onde a idéia de coleção, ironicamente, está presente de forma mais indireta) e também do clássico “A Riddle of Lumen”, de Brakhage, todos os filmes apostam menos na duração do olhar do que na velocidade das séries. Num ou noutro caso, é sempre o reordenamento promovido pelo olhar que confere sentido às coisas.

BH quarta 16 19h30
Curitiba terça 29 19h30

Blah, Blah, Blah
Dietmar Brehm, AUS, 2005, 13 min, 16mm
Um ensaio sobre a inquietude, ou sobre a insônia.

Bouquets (21, 22, 23, 24, 26, 27)
Rose Lowder, EUA, 1994/1995, 6 min, 16mm
Filmes de um minuto reúnem paisagens e jardins de locações específicas, resultando em pequenos bouquets de imagens montados na própria câmera.

Scar Tissue
Sue Friedrich, EUA, 1979, 7′, 16mm
Ensaio visual sobre a linguagem gestual e sobre o movimento.

Notebook
Marie Menken, EUA, 16mm, color & b/w, 10 min, 16mm
Pequena coleção pessoal de imagens.

The Garden of Earthly Delights
Stan Brakhage, EUA, 1981, 2 min, 16mm
Filme-colagem, inteiramente composto por restos de vegetação de uma área montanhosa. O título é uma homenagem à pintura “O jardim das delícias terrenas”, de Hieronymous Bosch.

The Riddle of Lumen
Stan Brakhage, EUA, 1972, 15 min, 16mm
Uma coleção, ou um enigma, feito a partir de diferentes formas de incidência da luz.

A Legend for Fountains
Joseph Cornell and Rudolph Burckhardt, EUA, 1957/1965, 19 min, DVD

Olhares e fragmentos dispersos do cotidiano pontuam a tarde de uma jovem, que caminha pelas ruas de uma cidade e se recolhe num quarto de hotel.


Coleções e Inventários #1 – Alguns textos

novembro 8, 2011

Dossiê da revista Dérives sobre Jean-Claude Rousseau
Stéphane Bouquet sobre o cineasta em Dicionários de Cinema
Entrevista com Cyril Neyrat sobre La Vallée Close
Trecho do texto de Akasaka Daisuke sobre Rousseau em Kino Slang


Coleções e Inventários #1 – Rousseau e Baillie

novembro 7, 2011

“Cada filme é um sistema que tem sua própria lei” – a frase do realizador francês Jean-Claude Rousseau talvez seja a que melhor defina a natureza de seu La Vallée Close, realizado ao longo de mais de dez anos, a partir de visitas regulares do diretor à uma pequena vila no sul da França. O filme consiste num inventário incomum de registros documentais e reflexões pessoais, onde a presença física e sensível das coisas, assim como a atmosfera em que estão imersas, vale muito mais do que o sentido que é possível depreender delas. Pedaços de imagens, extraídos da memória ou da realidade, orbitam muito lentamente em torno de uma conversa ao telefone e dos doze tópicos de uma estranha lição de geografia. Notas pessoais, citações, paisagens naturais, formações geológicas e lugares abandonados constroem assim uma cartografia imaginária e circular, um mapa de reminiscências feito de ligações misteriosas e frágeis.

Belo Horizonte | quarta 9 19h30
Curitiba | quinta 10 19h30

La Vallée Close [O Vale Fechado]
Jean-Claude Rousseau, França, 1995, 140 min, DVD
A região de Fontaine-de-Vaucluse, um livro de geografia, um quadro de Giorgione, um comentário de Lucrécio por Bergson e uma forma poética de Petrarca são os elementos que compõem o vale fechado.

Em Curitiba, a primeira sessão acontece no dia 03 de novembro, com o filme Quixote, de Bruce Baillie.

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Espaços negativos #4 – Outros Circuitos

outubro 24, 2011

 

 

 

 

 

 

 

 

Sessão Outros Circuitos

A elite econômica do país é uma classe social pouco reatratada nos documentários da cinematografia nacional. Buscar romper as barreiras dos espaços privados e públicos nas abordagens desta classe nem sempre rendem resultado, a não ser que o cineasta explore nela justamente o desejo de publicizar certos valores de classe. E é este desejo que podemos vislumbrar, apreendidos no filme por meio do discurso das personagens sobre suas residências de cobertura em edifícios de alto padrão.

 

Curitiba – 27.10  19h30

Um lugar ao sol | Gabriel Mascaro, Brasil, 2009, 71’

O documentário aborda o universo dos moradores de coberturas de prédio das cidades de Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. O diretor obteve acesso aos moradores das coberturas através de um curioso livro que mapeia a elite e pessoas influentes da sociedade brasileira. No livro são catalogados 125 donos de cobertura. Destes 125, apenas 09 cederam entrevistas. Através dos depoimentos dos moradores de cobertura, o filme traz um rico debate sobre desejo, visibilidade, insegurança, status e poder, e constrói um discurso sensorial sobre o paradigma arquitetônico e social brasileiro.


Espaços negativos #1 – Antoni Muntadas

outubro 5, 2011

 

Espaços negativos: delineando a diferença

A Mostravídeo de Outubro apresenta em suas exibições filmes e vídeos que buscam delimitar territórios e delinear suas diferenças com relação às suas linguagens e às suas formas de compreensão de mundo.

Da alteridade construída pelos limites dos territórios nacionais, em Antoni Muntadas, às barreiras sociais dos condomínios e edifícios de luxo em Um Lugar ao Sol, de Gabriel Mascaro, diferentes representações de mundo conformam-se nos códigos próprios das linguagens midiáticas.  Em Videolência, do coletivo NCA, é a vez de uma produção da periferia paulistana buscar narrar como a linguagem videográfica tem organizado a voz de grupos de jovens de setores populares.

Formas de expressão que nascem da diferença cultural, dos contornos demarcados dos contextos sócio-espaciais e que encontram no vídeo um suporte para o registro crítico.

Curiosamente, estes temas de fronteiras espaciais podem ser vistos também em muitos dos trabalhos da sessão Portfólio, que reúne um conjunto dos trabalhos do jovem artista curtibano Arthur Tuoto.

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Lugares do Olhar #3 e #4 – David Perlov

setembro 26, 2011


Na esteira da mostra retrospectiva “Epifanias do Cotidiano”, organizada por Ilana Feldman e realizada no Rio de Janeiro e em São Paulo em março de 2011, a Mostravídeo Itaú Cultural apresenta em BH e em Curitiba o filme Diário 1973-1983, do cineasta David Perlov. Nascido e criado no Brasil, Perlov sempre cultivou uma relação íntima com o país, que surge como uma referência freqüente nesses seus ensaios sobre o cotidiano, a família e o cenário político de Israel, onde passou a maior parte de sua vida. Para além da cronologia dos fatos históricos, contudo, a força dos filmes de Perlov reside na beleza que emprestam ao cotidiano, enredando-nos num ritmo familiar de pequenos acontecimentos e revelações autobiográficas.

Obs.:A exibição do filme Diários 1973-1983 será dividida em duas sessões: a primeira sessão do mês apresentará as partes 1, 2 e 3 (165 min) e a segunda sessão apresentará as partes 4, 5 e 6 (165 min). Ainda que a relação cronológica entre as partes seja importante, é possível ver os episódios separadamente ou acompanhar os episódios posteriores sem ter visto os que os precederam.

quarta 21 às 19h30 *
*
nesta sessão serão exibidos osDiários 1, 2 e 3

quarta 28 às 19h30 *
*
nesta sessão serão exibidos os Diários 4, 5 e 6

Diário 1973-1983
David Perlov, Israel/Inglaterra, 330 min, 1973/1983, DVD
Em maio de 1973, David Perlov compra uma câmera 16mm. O cinema comercial não o interessa mais. Durante dez anos ele filmará, dia após dia, seu cotidiano, sua família, seus amigos, seus alunos e suas viagens, sobretudo para a França e o Brasil, onde nasceu e para onde retorna 20 anos depois. Dividido em seis capítulos de 55 minutos cada, entre encontros com Nathan Zach, Claude Lanzaman, Izac Stern, Joris Ivens e Klaus Kinsky, acompanhamos os eventos dramáticos do país que Perlov escolheu como lar e que se dedicou, através de sua janela, a observar. Não se trata apenas de um diário pessoal, mas de uma obra militante por uma nova maneira de olhar o mundo, em que o privado se funde ao político, o cotidiano ao poético, e a turbulenta história de Israel se mistura à fascinante jornada pessoal do cineasta.


Lugares do olhar # 2 – Ermanno Olmi

setembro 14, 2011

Na sessão Histórias do Cinema, a Mostravídeo de setembro apresenta o segundo longa-metragem do diretor italiano Ermanno Olmi. Menos conhecido que outros diretores italianos também marcados pelo realismo do pós-guerra, Olmi sintetizou em seus filmes a preocupação social e o refinamento estético que definiram boa parte das ambições desse novo cinema. Longe de quaisquer afetações ou maneirismos formais, contudo, os filmes do diretor são marcados pela precisão e pela simplicidade calorosa com que acolhem seus personagens, construindo uma relação de intimidade e cumplicidade entre eles e o espectador. No seu segundo filme (Il Posto), Olmi constrói uma narrativa que, embora não abra mão das palavras, parece sustentar-se de forma especial num delicado jogo de gestos e, sobretudo, de olhares.

 quarta 14 às 19h30

Il Posto | O trabalho
Ermanno Olmi, Itália, 1961, 93′
Domenico (Sandro Panseri) vai a Milão para fazer um teste de emprego, onde conhece a jovem Antonietta (Loredana Detto). Aos poucos, eles deixam a serenidade da adolescência para entrar no mundo da vida adulta e do trabalho.


Lugares do Olhar #1 – Aloysio Raulino

setembro 7, 2011


Um dos mais importantes diretores de fotografia do cinema brasileiro (Braços Cruzados, Máquinas Paradas, de Roberto Gervitz e Sérgio Toledo, Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento, Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, dentre outros), Aloysio Raulino construiu uma carreira marcante também na direção de filmes, boa parte deles tematizando as condições de vida de trabalhadores, migrantes e excluídos sociais. Ainda que centrados fortemente no potencial expressivo das imagens, seus filmes não se rendem jamais a uma contemplação distanciada e desengajada do mundo. Neles, para além da força poética dos registros, a câmera deixa sempre impressa uma margem de conflito, uma área de disputa e de tensão entre aqueles que olham e aqueles que são olhados.

quarta 7 às 19h30 *

* esta sessão será seguida de debate com o realizador Aloysio Raulino, o curador João Dumans e o pesquisador de cinema Ewerton Belico.

Jardim Nova Bahia
Aloysio Raulino, 1971, Brasil, 15 min, 35mm
Depoimento prestado por Deutrudes Carlos da Rocha, baiano de 24 anos, lavador de automóveis, que vive em São Paulo. Em sua primeira parte, o depoimento de Deutrudes é alternado com aspectos de outros baianos da sua mesma condição. Na segunda parte, ele próprio empunha a câmara, exprimindo-se livremente, sem qualquer interferência do realizador.

O Tigre e a Gazela
Aloysio Raulino, 1976, Brasil, 14 min, 35mm
As fisionomias, os gestos e as falas de mendigos, pedintes, loucos e foliões que passam pelas ruas de São Paulo. Os sons e imagens são ilustrados com extratos de Frantz Fanon.

Porto de Santos
Aloysio Raulino, 1978, 19 min, 35mm
Descrição poética do Porto de Santos e seus trabalhadores – doqueiros, prostitutas, marinheiros, um capoeirista –, provavelmente envolvidos numa paralisação grevista.

Celeste
Aloysio Raulino, Brasil, 2009, 5 min, DVD
Contra um céu adverso, Celeste alça seu vôo. Se subiu, ninguém sabe, ninguém viu.